sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Acerto no ano 12000

A introdução dos anos bissextos não resolve o problema do calendário, que continua a não bater certo!!!
Poderá o nosso calendário ser acertado de forma rigorosa? Várias foram as tentativas que ao longo dos tempos se fizeram nesse sentido, mas sempre sem êxito. E a razão para esse constante desacerto reside no fato de o tempo que a Terra leva a girar em sol (um ano) não poder ser exatamente divisível pelo tempo que leva a girar sobre si própria (um dia).

Na verdade, se medirmos o tempo exato que a Terra demora a completar o movimento de translação, ou seja, o tempo que separa dois equinócios da Primavera, por exemplo, verificamos que corresponde a 365.2422 movimentos de rotação. Isso impede a divisão do ano num número exato de dias e leva a que ciclicamente tenha de se acrescentar um dia no calendário, dando origem aos chamados anos bissextos. É o que vai acontecer de quatro em quatro anos,dando origem ao 29 de fevereiro.

Mas mesmo essa correção não conduz ao acerto perfeito do calendário, obrigando a que certos anos deveriam ser bissextos deixem de o ser e a que, nesses anos, fevereiro tenha apenas 28 dias. E nem assim se consegue o acerto rigoroso.

Vejamos, então, como as coisas se passam. A primeira tentativa séria de acertar o nosso calendário foi levada a cabo pelo Imperador romano Júlio César, por volta do ano de 46 antes da era cristã. Até então o calendário romano era constituído por 12 meses de 29 e 30 dias, fazendo que o ano tivesse apenas 354 dias. Isso provocava grandes complicações sobretudo na agricultura, porque o calendário se adiantava em cada ano cerca de 11 dias em relação às estações.

Júlio César nomeou então um astrónomo grego chamado Sosígenes, de Alexandria, para proceder ao acerto. Depois de concluir que o ano tinha 365,35 dias, Sosígenes dividiu-o em 11 meses de 30 e 31 dias e acrescentou-lhe mais um mês, Fevereiro, 28 dias. Mas, como ainda sobrava um quarto de dia em cada ano, ele fez que o mês de Fevereiro tivesse mais um dia de quatro em quatro anos.

Assim nasceu o calendário julianos, que entrou em vigor mo dia 1 de Janeiro de 45 a.C., e com ele surgiram os chamados anos bissextos, justamente porque, de quatro em quatro anos, o sexto dia antes das calendas de Março era repetido - bis sextilis ante calendes martias.

Aparentemente o problema estava resolvido para sempre. Mas Sosígenes cometera um erro: fixara a duração do ano em 365,25 dias, quando na verdade tem apenas 365,2422 dias. Esse erro de 0,0078 conduziu a que em cada 400 anos se registasse uma diferença ligeiramente superior a três dias em relação ao calendário das estações.

Quando se chegou ao papado de Gregório XII, essa diferença era já de cerca de 10 dias, o que não deixava de ser significativo. Por isso houve necessidade de proceder à sua correção e estabelecer um critério mais rigoroso para evitar futuras discrepâncias. E a correção foi sumária e radical: de quinta-feira, dai 4 de Outubro de 1582, passou-se para sexta-feira, 15 de Outubro de 1582. E para evitar futuros atrasos estabeleceu-se que nos anos do fim de século, ou seja, nos que terminam em 00 (que deveriam ser sempre bissextos), o mês de Fevereiro tivesse apenas 28 dias, com excepção dos que fossem divisíveis por 400, caso em que Fevereiro continuaria a ter 29 dias.

Assim, no ano bissexto de 1600, Fevereiro teria 29 dias, mas já nos anos bissextos de 1700, 1800 e1900, em que teria apenas 28 dias. No último ano do segundo milénio (2000) Fevereiro teve 29 dias, tal como acontecerá nos anos de 2400 e 2800 do terceiro milénio. Porem, nos «anos bissextos» de 2100, 2200, 2300, 2500, 2600, 2700, 2900 e 3000 Fevereiro terá apenas 28 dias.

Erro de 0,0003 dias

Julgou-se que assim o problema estaria definitivamente solucionado, mas não. É que, tal como Sosígenes de Alexandria, os astrónomos e matemáticos do Papa Gregório XIII cometeram também um erro. Eles fixaram a duração em 365,2425 dias, quando, em bom rigor, a duração do ano equinocial (que separa dois equinócios) é de 365,2422 dias.

Essa incorrecção traduz-se num erro de 0.0003 dias em cada ano, o que originará uma diferença de três dias em cada dez mil anos. Será pois um assunto para ser resolvido por volta do ano de 12000. Esperemos que dessa vez o seja definitivamente.

in Revista "UNICA" Expresso nº 1635 28 Fevereiro 2004

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